Atendida pelo Treino Online há cerca de 20 anos, a RunFun está entre as maiores e mais completas assessorias esportivas do Brasil. Em 31 anos de trabalho sob a direção de Mário Sérgio, que tem um extenso currículo relacionado a treinamento, saúde e bem-estar, a RunFun passou por praticamente todas as fases da corrida de rua no Brasil. Consultor em qualidade de vida há mais de 30 anos em grandes empresas, Mário Sérgio falou ao blog sobre corrida, tecnologia, redes sociais… Confira!
O NASCIMENTO
“A RunFun – ainda sem este nome – nasceu em 1o de abril de 1993, um pouco antes da Maratona de Revezamento Pão de Açúcar. Eu era treinador de natação do Esporte Clube Pinheiros. Lá, fui atleta, cheguei à seleção brasileira e disputei muitos campeonatos de natação. Como atleta, eu e meu treinador sempre usamos a corrida como complemento para os treinos. Depois, como treinador, passei a fazer o mesmo com a garotada: corrida para melhorar o condicionamento.
Na verdade, eu sempre gostei de corrida e como a minha ex-mulher – ainda era casado com ela – queria fazer a sua primeira maratona, a gente começou a treinar para as provas iniciais de 6km. E isso foi o embrião da RunFun.
TREINOS VIA FAX
A prescrição e o envio da planilha de treinos, era algo muito interessante, porque a gente imprimia uma folha com os dias da semana, que era tirada de um arquivo de calendário, escrevia à mão e mandava por fax. Era trabalhoso e a gestão disso, perto de como fazemos hoje, era extremamente amadora. Para se ter ideia, eu cobrava dos poucos atletas que tinha, um valor com o final em centavos, e assim eu identificava quem havia feito o depósito. Depósito feito eu enviava os treinos por fax. Minha ex-esposa me ajudava nisso, por que às vezes ficávamos horas ali esperando sinal e mandando fax.
COMEÇA A EVOLUÇÃO
Depois desse período com o fax, a gente começou a evoluir. Um amigo, proprietário de uma empresa de softwares, havia desenvolvido algo para natação. Durante muitos anos usamos este software para treinamento e funcionou bem durante mais ou menos 10 anos, a primeira década da RunFun. Nessa época já tínhamos escritório, atendimento, departamento financeiro…
Mas a análise e o acompanhamento dos treinos ainda eram muito na minha cabeça. Tínhamos auxiliares técnicos, mas era eu que cuidava de tudo. Como treinador de natação cheguei a treinar até 100 atletas ao mesmo tempo e lembrava de tudo, de cada um. E isso me ajudou quando precisei fazer o mesmo com meus atletas de corrida. Eu lembrava o treino de cada um, como tinham ido nas provas… Estava tudo aqui, na minha cabeça.
O IMPOSSÍVEL É TEMPORÁRIO
Naquela época era completamente impossível sequer pensar em fazer o que fazemos hoje. Ter o tamanho que temos, os serviços que prestamos e a quantidade de pessoas que atendemos era algo impossível de acontecer.
Muito da assessoria surgiu porque eu via época o Vanderlei de Oliveira ganhando dinheiro com isso e via o nascimento do Marcos Paulo Reis no Projeto Acqua. Via os dois e pensava “isso aí eu sei fazer também”. Eu já entendia de natação e de treinamento, gostava de correr… Sabia que eu era capaz e, na prática, eu ainda via a evolução da minha ex-mulher, que era a minha primeira atleta. Pensei “meus treinos funcionam”.
Mesmo assim nem nos melhores sonhos eu imaginava conseguir chegar aos 100 atletas que o Vanderlei tinha. Na época isso era algo descomunal. As provas da Corpore no Ibirapuera, as maiores na época, tinham 500 participantes. Eu achava aqui uma multidão. A São Silvestre não passava de cinco mil. Eu pensava “se tiver 100 atletas está muito bom!”. Nunca imaginei que seria como é hoje!
ERA DA TECNOLOGIA
Quando apareceu a internet, no final dos anos 90, fizemos o nosso primeiro site e aquilo já parecia coisa de outro mundo. Aí veio o celular e a gente podia ligar e ficar conversando com as pessoas sem estar presos aos aparelhos. Isso já era um baita complemento.
Ver tudo isso chegando rapidamente, mas em doses foi incrível: o celular, a internet, os sites, IPhone, os aplicativos… Até termos tudo isso na palma da mão! Olhando para trás e vendo a análise de treinos que conseguimos fazer hoje, com o Garmin, pelo Treino Online ou diretamente pelo link que o atleta libera, parece outro mundo.
Naquela época a gente achava um ´rocket science´ – expressão frequentemente usada para descrever algo que é muito difícil ou extremamente complicado – o fato de conseguir pegar a frequência cardíaca através do relógio, com um Polar. O atleta tinha que colocar os dedos na jugular e pegar, mas já era muito legal saber a FC. Isso já ajudava no acompanhamento, na gestão e principalmente na análise de cargas e intensidade dos treinos.
O CÉU É O LIMITE
Nessa época, no final dos anos 90, quando passamos a crescer e eu a me dedicar 100% à RunFun, percebi que o céu poderia ser o limite para a assessoria. Já tínhamos a possibilidade de acompanhar o mundo inteiro, de analisar o que era feito nos EUA em tempo real, e de aproveitar mais as minhas visitas às provas internacionais. O acesso aos conteúdos passou a ser gigantesco e ali eu vi a grande possibilidade. E isso coincidiu com nossa entrada no mercado corporativo, que foi em 1999.
Tudo o que acontece atualmente não envolve apenas a gestão operacional e financeira da assessoria e a prescrição de treinos. Toda a tecnologia que envolve os esportes como os gadgets e os apps… O que se viu com tudo isso foi um ganho absurdo e extraordinário de qualidade, especialmente na análise dos treinos, que passa a ter uma profundidade muito maior.
AS REDES SOCIAIS
E então chegaram as redes sociais, com as quais sempre vivi uma relação de amor e ódio, ou de ódio e amor. No primeiro momento, nós que viemos na RunFun desde sua fundação tivemos muita dificuldade, por que não fomos criados no mundo online e digital. Ao contrário, por exemplo, do nosso atual diretor-técnico, Camilo, de 33 anos, que cresceu vendo isso.
Mas eu gosto muito de aprender e o aprendizado é algo extraordinário. Aliás, sou adepto daquela frase de Mahatma Gandhi “Viva como se fosse morrer amanhã e aprenda como se fosse viver para sempre”. Tenho uma loucura por ler, conhecer, aprender… E as minhas mídias sociais tem esse lado do aprendizado. Mas não entro na neurose de ter que estar em todas elas e de ter que acompanhar tudo rapidamente Procuro apenas fazer algo consistente.
Estávamos no Facebook…Entramos nos Instagram, então vamos fazer bem feito no Instagram. Twitter é algo que nunca gostei muito. Youtube já gosto bastante, então vamos ter coisa lá. E o TikTok tem sido a grande mudança, mas ainda não trabalho com ele.
O mercado se beneficia muito do filão do TikTok, que faz o nosso segmento ganhar um impulso que nunca foi visto nas duas primeiras ondas de crescimento. Estamos na terceira onda, pós-pandemia. Falo do TikTok por causa da garotada mais nova, que entrou na corrida e fez com que a gente tivesse um público que não existia. É muito positivo isso.
OS TREINOS PRESENCIAIS
Acho que o online tem o valor de escala. Então, enquanto falamos em atender 100 pessoas em treinos presenciais, nada te impede de atender 2, 5, 10 mil pessoas no online. Essa é a característica de mundo online.
Mas não há qualquer dúvida de que o ser humano é sociável e depende do relacionamento, da convivência… Nada substitui não só isso, como também o olhar do treinador e aquela mão no ombro na hora de falar “e aí, tá tudo bem? tô vendo você meio cansado, o que aconteceu? por que está desanimado? qual seu próximo desafio?” Acho que isso nunca vai ser substituído nem pela inteligência artificial, que vai evoluir e vai montar treinos cada vez mais assertivos. Mas sempre serão indispensáveis a visão, o olhar e a sensibilidade do treinador. Estamos falando de pessoas, que são complexas. Uma máquina não consegue entender essa complexidade, só outro ser humano complexo para entender isso.
Sempre vai ter muito peso o treinamento presencial, a experiência, o estar junto, o receber o grito do seu nome, o incentivo…”